segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Apontamentos do Iowa (3)

Os apontamentos de uma viagem ao Iowa terminam com as pequenas coisas que ficam na memória e que é mais fácil mostrar que contar. As impressões que perduram e que nos tocaram de alguma forma, numa viagem que me levou por roteiros que dificilmente se repetirão.

A caixa de correio que nos habituámos a ver nos filmes é assim tal e qual, com a bandeirinha de lado. Estava para baixo: era sábado e não havia correspondência (suponho).


Outro estereótipo: as repúblicas de estudantes. Esta, a pouca distância da universidade, exibia uma imponente fachada e foi reconhecível, mais uma vez, devido ao extraodinário reportório da cultura quotidiana dos americanos que cada um de nós possui.


Os campos de basebol são imensos e estendem-se nos parques públicos para treino de equipas e dos cidadãos comuns. Num dia gelado, havia crianças e jovens a praticar este jogo de difícil entendimento para os europeus.


Uma casinha de pássaros pendurada numa árvore. Preciosa na simplicidade, para além de ser uma imagem que, mais uma vez, vamos buscar ao fundo da memória dos desenhos animados americanos.


Um casamento apanhado por acaso, no parque da cidade. A noiva, percebi depois, estava dentro da limusina e aguardava por um momento favorável para sair. Esperei e ali estava ela, a correr de chinelos para uma casa de apoio onde, julgo, se acabaria de arranjar. Estava um frio cortante, já o referi. Do anfiteatro saía som de violinos, enquanto os convidados se juntavam pouco impressionados com a rudeza das condições atmosféricas.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Apontamentos do Iowa (2)

As árvores vestidas de outono. Vermelhas, amarelas, verdes. Por todo o lado, majestosas, a impor a sua presença antiga, ordenando os espaços em seu redor, como donas da paisagem humanizada. Seja nos bairros residenciais, no perímetro da universidade, nos parques urbanos ou nas bermas das auto-estradas, as árvores são protagonistas de pleno direito, a lembrar um respeito pela natureza que pode parecer paradoxal, se pensarmos na omnipresença dos automóveis e nas construções desengraçadas.
Em Iowa City, como em muitas cidades americanas, ir a pé a algum lado é algo de bizarro, pois todos circulam em veículos motorizados fora de um breve perímetro de poucas dezenas de metros. Por esta razão quando, no primeiro dia, decidi ir a pé para a universidade, foram pouquíssimas as pessoas que encontrei, dando-me a impressão (falsa) de uma cidade vazia.
Ao sair do hotel, instintivamente (pois não há mapas dignos desse nome para peões) segui o rio e atravessei uma zona residencial que me pareceu ser claramente dominada pela classe média e média-alta. As casas eram, na sua maioria, de linhas tradicionais, como nos habituámos a ver nos filmes e nas séries, com a exceção de uma ou outra mais moderna, com materiais que fugiam à clássica madeira colorida. Porém, o que mais me agradou neste bairro foi a perfeita integração na paisagem - as árvores, como já referi, mas também os relvados um tanto selvagens, naturais, numa continuidade perfeita entre o público e o privado. Sem vedações nem sebes, havia mobiliário de jardim espalhado em frente às casas e quase apetecia sair do passeio e descansar por ali um bocadinho, naqueles espaços de ambígua propriedade.
Este modo de viver, tão contrário ao dos portugueses, agrada-me. Possibilita espaços esteticamente agradáveis e proporciona - pelo menos aparentemente - uma vivência mais descontraída, sem a obsessão dos limites e da privacidade. Habituava-me a viver assim.






quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Apontamentos do Iowa (1)

Um congresso da APSA (American Portuguese Studies Association) levou-me bem longe, até Iowa City, a uma hora de voo de Chicago, mas numa outra outra América que não se alimenta de arranha-céus, táxis apressados ou profissionais com ar competente. Distante, portanto, das imagens estereotipadas que filmes e séries de televisão nos vão incutindo - mas ainda assim familiar em certo sentido, porque existe um imaginário construído que nos transporta para estes ambientes mais afastados das grandes metrópoles, aquilo a que, se quiséssemos usar um cliché, apelidaríamos de "América profunda". Ou, usando outro cliché, mais nosso, "o cu de Judas".
É uma pequena cidade, Iowa City, apesar de a sempre útil wikipedia  esclarecer que é a quinta maior cidade do Estado, com cerca de 68 000 habitantes. A impressão que me ficou foi de uma cidade meia adormecida, com uma downtown aborrecida e feia, apesar da enorme população estudantil. Falo da zona comercial, pois o rio, os bairros residenciais, a universidade, têm outros encantos de que farei apontamento mais adiante.
Iowa City foi a primeira capital do estado com o mesmo nome  (até 1857) e o Old Capitol - atualmente propriedade da universidade - disso faz testemunho. O edifício, com as suas colunas neoclássicas e a cúpula dourada, impõe-se na paisagem monótona da cidade, não sendo raros os turistas (americanos) que nele se detêm, máquinas fotográficas a disparar.
Estava frio, muito frio, e as incursões ao centro foram rápidas, para almoços de passagem. Mas não é aqui que Iowa me deixou marca na memória.