quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Porque me olhas assim?

É uma música belíssima de Fausto (Para Além das Cordilheiras, 1987), com um poema magnífico que arrepia o coração mais empedernido...


...mas também Cristina Branco (Ulisses, 2005) a cantou, e de  um modo sublime.



Há músicas que são como raios de luz num lago escuro e silencioso.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Teoria Geral do Esquecimento



Teoria geral do Esquecimento é o nome do livro publicado pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa em 2012, e que apenas há dias tive oportunidade de ler, de um fôlego, como há muito não me acontecia. Sou uma leitora assídua de Agualusa, por dever de investigação e por gosto, mas esta é já, para mim, uma narrativa maior no conjunto da produção literária do escritor, depois do pouco conseguido (na minha opinião) Milagrário Pessoal.
A obra inspira-se num facto verídico: uma portuguesa que se terá emparedado no seu apartamento dias antes da independência de Angola e assim permaneceu durante vinte e oito anos. Desafiado a escrever um roteiro para um filme, que entretanto não chegou a ser realizado, Agualusa aproveitou a história para desenvolver um romance poderoso, que devolve ao leitor algumas das melhores características da sua escrita: o cruzamento de discursos (diarístico, poético, policial, epistolar...), a intertextualidade (quer com os seus próprios escritos, como é habitual, quer com outros autores, com particular destaque para o grande Ruy Duarte de Carvalho), a intriga em jeito de novelo (que aos poucos se vai deslindando até à revelação final).
Se o leitor se vê preso pela sucessão de acontecimentos cuidadosamente intrincados e pelos mistérios que se criam em torno das personagens (dúbias, mas consistentes), a verdade é que o livro tem muito mais para mostrar que um enredo engenhoso. Como anunciado no título, este é um romance sobre o esquecimento e, portanto, sobre a(s) memória(s) e as condições da sua sobrevivência, num contexto em que as omissões se revelam tão importantes como os discursos. Cada uma das personagens carrega consigo o peso insuportável do passado, e a necessidade de inscrever no presente uma história pessoal que se faz pela (re)leitura das suas próprias circunstâncias, à luz daquilo em que se vão transformando.
Neste jogo de identidades que se vai tecendo entre o emparedamento metafórico (são múltiplos, na obra, os espaços de reclusão) e a urgência da libertação (todas as personagens, de algum modo, quebram fronteiras), a dimensão coletiva apresenta-se subliminar, como um desafio à capacidade de povos e comunidades se pensarem no cruzamento entre memórias e esquecimentos, entre silêncios estratégicos e o reconhecimento do(s) outro(s). O que não é pouco, nos tempos que correm. Diria mesmo: o que faz falta, se quisermos refletir sobre a complexa negociação de poderes e de respeitos dentro de e entre nações pós-coloniais.

De regresso

Regresso às palavras, ao registo das ideias, às marcas das emoções. Regresso ao sons e às imagens, quando apetece. Regresso porque sim, e é para ficar. Até já.