Ponto de partida: não sou contra os rankings das escolas. Especificando: não tenho nada contra a divulgação dos dados relativos às classificações nos exames de alunos do sistema básico e secundário português, sobretudo quando acompanhados por informações que permitem conhecer um bocadinho melhor a realidade das nossas escolas. Será difícil negar que a publicação destes rankings gera, todos os anos e por alguns dias ou semanas, um debate público sobre temas que a sociedade, no resto do tempo, tende a evitar. Sejam eles as inevitáveis comparações entre escolas públicas e privadas, sejam as razões que empurram as escolas para cima ou para baixo na tabela. E isto nada tem de negativo: vamos esconder a cabeça na areia e fazer de conta que existe igualdade no acesso à educação? Vamos brincar à igualdade de oportunidades?
Neste sentido, compreendo, por exemplo, as reservas de
Maria de Lurdes Rodrigues, mas retenho sobretudo a conclusão de que "O problema não está (...) nos rankings, mas no mau uso que deles se faz." Ou, posto de um outro modo, é um mau sistema de aferição do desempenho (dos alunos de cada uma das) escolas, mas é, até ver, o único em que se tem investido tempo e dinheiro - um esforço privado, sublinhe-se. Falta, realmente, às instituições públicas, uma cultura de avaliação, que pudesse trazer outros contributos, a outros níveis, mas isso são "outros quinhentos".
Como muito boa gente tem observado, nunca a escola foi tão desigual, no sentido em que, tendencialmente, reproduz as assimetrias socioeconómicas, mostrando-se incapaz de as esbater - com honrosas e meritórias exceções.
Joaquim Azevedo é muito claro: "Sabemos que a selectividade escolar é imensa e que ela tem a cara da selectividade social. Mas não sabemos como nem porquê, quando ocorre e com que consequências, tanto para os alunos como para as escolas e as suas opções, para o ensino superior e para o conjunto da sociedade." Os rankings não se limitam a pôr o dedo na ferida - escarafuncham-na até a dor ser insuportável, e a consequência é levar-nos a acreditar que não há nada a fazer senão colocar um grande penso e não pensar muito no assunto.
Desistimos dos alunos dos chamados "bairros problemáticos" das periferias das grandes cidades, como desistimos das escolas do interior mais pobre. Desistimos de acreditar que não tem de ser assim, e sempre que uma escola improvável aparece a meio da tabela, interrogamo-nos se não terá sido um acaso. Reduzir os rankings a uma legitimação das escolas privadas é uma forma enviesada de desviar a discussão do essencial. Que passa pelo direito que cada família tem de confiar na escola onde os filhos estudam (e não, nada tem a ver com "cheques ensino"). Ou pela capacidade que temos de dar esperança aos excluídos, de quem nada se espera.